Este tema é abordado por Celmira Macedo no guia de formação parental “Escola de Pais.NEE” que publicou em 2012. A autora, doutorada em Educação Especial, é fundadora e presidente da associação Leque, cuja missão é promover e melhorar a qualidade de vida e o bem-estar físico e emocional das pessoas com necessidades especiais (deficiência) do distrito de Bragança e suas famílias, bem como, promover a sua inclusão social.
Iremos aqui apresentar alguns extratos do seu Guia.

Todos temos o direito à nossa identidade e às nossas diferenças. A família é o primeiro agente socializador, de inclusão e o lugar onde as crianças começam a construir as suas competências.
As pessoas com deficiência têm sido marcadas por uma sociedade que discrimina em vez de as acolher, que acentua mais os seus limites dos que as suas potencialidades, onde as representações e imagens mentais ainda primam pela lógica da homogeneidade, valoriza o que é igual e comum e coloca de lado a criança diferente. Apesar da evolução cultural dos últimos anos, a sociedade está ainda impregnada de princípios que enaltecem a competência face a outros valores, em detrimento da solidariedade e do respeito pela diferença.
A maneira como nos referimos às pessoas com necessidades especiais (NE), seja no meio familiar ou social, influencia a criação de representações positivas ou negativas desta população. Quando usamos o termo deficiente estamos a valorizar mais o problema que a pessoa, pois se nos detivermos a analisar o seu significado no dicionário, percebemos que deficiente é sinónimo de falho, imperfeição, incompleto.
Para promovermos a verdadeira inclusão, devemos ser capazes de analisar a nossa própria linguagem e perceber como ela carrega uma visão negativa e reducionista das pessoas com necessidades especiais. Assim, importa caminhar no sentido de dar enfoque à PESSOA que é portadora de uma incapacidade e que tem os mesmos direitos e deveres dos seus concidadãos. Estas pessoas têm o direito de ser tratadas com direito e dignidade e de verem valorizadas as suas potencialidades e não só as suas limitações. E, sobretudo, terem o direito à sua identidade.
Tal como Rodrigues (2002), advogamos que as limitações não definem a essência humana, todos somos diferentes e é essa diversidade que nos enriquece. Todos temos direito à identidade e à diferença.
Para isso, é absolutamente necessário acreditar que estas crianças/ jovens têm os mesmos direitos e deveres que os seus concidadãos e apenas necessitam de alguns apoios para se tornarem mais funcionais. Precisam que se lhes proporcionem condições de desenvolvimento, interação, educação e experiências sociais idênticas aos seus pares ( Correia, 2005).
Deste modo, mais importante que do que denunciar o que as crianças com NE não podem fazer, ou conjeturar sobre o que as diferencia dos outros, é exaltar as suas potencialidades como cidadãos, numa sociedade livre e democrática. Além de que, caracteriza-las pelas suas dificuldades, apesar de ser terrivelmente injusto, bloqueia a possibilidade de acesso e representações positivas que as orientem no processo de desenvolvimento numa perspetiva de educação para a cidadania.

Fonte: Escola de Pais. NEE ( Celmira C.M. Macedo, 2012, Edições Pedago)