Define "Normal"

25-01-2015 16:41

 

Mais um excelente "grito"de Celmira Macedo, publicado Na Carteira da Frente.

 

A ideia de normalidade é muito mais uma questão de matemática estatística, um rótulo que pouco serve para definir quem quer que seja. O atual paradigma científico em que vivemos impõe-nos rótulos, classificações, categorizações, aos quais nos curvamos em plena carneiragem cega de obediência, sem consciência  do lixo tóxico que este rótulo carrega, em nós e nos outros/as.

Afinal, o que é normal? Qual é a pessoa normal? Parece consensual que a pessoa normal é aquela que resulta da convenção de uma maioria (ser normal quer dizer que se está dentro da média), mas a maioria não depende do  contexto de onde se insere ou de onde se é oriundo? Afinal, aqui, no Paquistão ou na China, qual é a pessoa normal? A que usa mini-saia ou a que usa Burka? A que gosta de carne ou a que é vegan? A que come insectos ou alheiras? A que tem uma família convencional, monoparental ou pluriparental? O homem que respeita a mulher ou o que a maltrata?

Afinal, a pessoa normal onde está?

E os pais/mães normais, quais são? Os que perante uma criança de hiperativa a enchem de medicamentos ou os que a encaminham para atividades desportivas?

No contexto da Escola quem são os aluno/as normais? Os/As que tiram boas notas? (estes são a minoria, logo estes não são os normais, pois convencionado está que a norma advêm da maioria, certo?!) Isto se falarmos em contextos convencionais, mas outros existem (os ditos problemáticos), onde a maioria tira notas abaixo da média. O normal neste contexto será ser mau aluno/a?

E  já que falamos da Escola, quais são os professores normais? Os que acreditam nos guetos ou os que acreditam e operacionalizam a inclusão? Lamento informar mas a maioria ainda acredita na segregação (desculpem a sinceridade e ressalvando os milhares de bons professores promotores de atitudes inclusivas, mas que são ainda assim uma minoria). Normal é não acreditar na inclusão? É assim que dita a maioria? Será isto normal?

Será normal excluir a criança ou jovem com limitações intelectuais e com dificuldades de aprendizagem? Ou o normal é descobrir a suas dificuldades, interesses e motivações e introduzir novos métodos e estratégias mais adequados à sua situação?

Eu não acredito na morma, acredito sim na normalização, que é bem diferente!

Normalizar não significa tornar normal, mas sim, proporcionar às pessoas (com e sem necessidades especiais) condições equitativas de desenvolvimento, interação, educação, emprego e experiência social (Nirjke, 1969).

Wolfensberger (1985) vai mais longe e introduz o conceito de valorização da função social,  ou seja, normalizar é tornar as pessoas (com necessidades especiais) parte da comunidade, onde poderão desempenhar papéis sociais válidos, e que tenham acesso aos mesmos direitos e possam exercer os seus deveres e responsabilidades na relação e proximidade com os seus concidadãos.

O que me parece normal é perceber que estas pessoas apenas precisam de receber apoios, para que possam desempenhar essas mesmas funções sociais e de vida.

A estas pessoas devem ser facultada formação e oportunidades de desenvolvimento, junto de pessoas sem essas necessidades. Se é normal pensar assim, não sei…?  (bem, até sei e sei que que não é), mas eu gostava que fosse normal. Seja lá o que isso signifique, mas pelo menos que fosse levado a cabo pela maioria!

 

Fonte: Na Carteira da Frente

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